“A morte é sempre e em todas as circunstâncias uma tragédia, pois, se não o é, quer dizer que a própria vida passou a ser uma tragédia.”
Theodore Roosevelt
(1855-1919)
26º Presidente dos EUA
Prémio Nobel da Paz em 1906
Em séculos anteriores, a Barrinha de Esmoriz era um autêntico paraíso natural visto que a industrialização e a urbanização na região se expressavam em proporções quase nulas. A lagoa era procurada por turistas que desejavam desfrutar de uma época balnear deliciosa, mas também pelos próprios pescadores que, não podendo aventurar-se no alto mar quando este estava bravo, optavam por navegar nas águas calmas da lagoa para capturar tainhas, solhas, enguias, linguados, mugens, robalos, etc. Também os próprios agricultores procuravam nas imediações: palhas, ervanços, colmos, moliços, muinha, rapilho e estrume. O sítio também atraía um número aceitável de caçadores que desejavam apoderar-se de algumas espécies de aves como as garças, os lavancos, os patos, as galinhas de água, os mergulhões, os abetouros galegos, os maçaricos reais ou as frangas de água.
Tendo em conta a sólida presença humana na Barrinha no decurso desses tempos, é natural que nem tudo seria um mar de rosas. Se é verdade que a lagoa "matou" a fome a muita gente, também não será mentira nenhuma afirmar que a mesma foi palco de algumas tragédias. No entanto, tal constatação deve ser encarada como uma consequência natural até porque todos os cursos de água, de dimensões aceitáveis, já tiveram certamente as suas próprias histórias negras derivadas da ocupação humana.
Dentro deste contexto, soubemos, por exemplo, através de informações concedidas por Arménio Moreira, actual presidente do Movimento Cívico Pró-Barrinha, que ocorreram alguns casos isolados de afogamento no século anterior. Pessoas que faziam praia em Esmoriz e que subestimavam a lagoa, acabando por perder o pé e afogando-se de forma silenciosa sem saber nadar. Arménio relatou-nos mesmo a história de uma criança que foi ali dada como desaparecida, mas que só poucas horas depois, e na sequência de uma infatigável procura colectiva, foi encontrada sem vida na lagoa. Eram efectivamente tragédias semelhantes àquelas que aconteciam também a qualquer banhista que se aventurava ousadamente no mar. Se aqui eram as ondas e as correntes que poderiam causar as tragédias, na Barrinha eram as próprias areias "movediças" (ou instáveis) e os poços naturais (ou despiques drásticos de solo).
É essencial recordar que, durante os séculos anteriores, não existiam destacamentos da Protecção Civil nem nadadores-salvadores nas praias pelo que as acções de vigilância e de socorro imediato praticamente não existiam. Isto já para não falar dos equipamentos modernos que hoje existem e que outrora não passavam de uma miragem. Além disso, a prática da natação estava longe de ser divulgada entre as comunidades. Tudo isto só contribuiria para exponenciar ainda mais os níveis de mortalidade.
Expostas estas considerações, iremos abordar agora os relatos das duas piores tragédias ocorridas na Barrinha de Esmoriz.
A 22 de Janeiro de 1725, treze pessoas (onze das quais mulheres) perderam a vida na lagoa, quando faziam a travessia de barco na lagoa. Provenientes do Porto, esperavam chegar à Murtosa, mas acabaram então por naufragar na Barrinha. Desconhece-se na altura o que motivou a tragédia. É possível que o mau tempo ou as condições rudimentares da embarcação pudessem ter suscitado este terrível desfecho.
A 27 de Janeiro de 1852, seria a vez de José Nunes da Maia, capitão de marinha mercante, de José Pinheiro, seu marinheiro, e do almocreve de Ovar perderem a vida, quando o seu barco foi fustigado por um "tufão", voltando-se o mesmo no regueirão. Ainda por cima, a lagoa estava muito cheia e instável. De acordo com o Padre Aires de Amorim, autor da monografia "Esmoriz e a sua História", apenas se safaram deste desastre o barqueiro natural de Paramos e o seu filho. O facto foi comunicado posteriormente pelo administrador da Feira ao respectivo Governador Civil. Acredita-se que este acontecimento tenha acelerado o projecto de construção de uma nova ponte sobre a Barrinha de Esmoriz.
Como podemos constatar, ambas as tragédias ocorreram em Janeiro, durante as temperaturas rigorosas do Inverno. As fortes chuvadas e as impressionantes rajadas de vento constituíam factores mais que suficientes para derrubar qualquer embarcação modesta. Poucos seriam os cidadãos que saberiam nadar e controlar a calma nos momentos mais aflitivos. Outros atreviam-se, por desconhecimento e por falta de cautela, a enfrentar cenários adversos, subestimando os perigos, então pouco visíveis, que se lhes deparavam.
A Barrinha teve também uma história negra, onde perdeu no seu regaço muitos dos filhos que alimentara. Certamente que não o fez por mal, mas porque todos nós temos de partir numa determinada hora, seja onde e como for!
Legendas - Fotos da Barrinha de Esmoriz nos anos de 1965 e 1971.
Expostas estas considerações, iremos abordar agora os relatos das duas piores tragédias ocorridas na Barrinha de Esmoriz.
A 22 de Janeiro de 1725, treze pessoas (onze das quais mulheres) perderam a vida na lagoa, quando faziam a travessia de barco na lagoa. Provenientes do Porto, esperavam chegar à Murtosa, mas acabaram então por naufragar na Barrinha. Desconhece-se na altura o que motivou a tragédia. É possível que o mau tempo ou as condições rudimentares da embarcação pudessem ter suscitado este terrível desfecho.
A 27 de Janeiro de 1852, seria a vez de José Nunes da Maia, capitão de marinha mercante, de José Pinheiro, seu marinheiro, e do almocreve de Ovar perderem a vida, quando o seu barco foi fustigado por um "tufão", voltando-se o mesmo no regueirão. Ainda por cima, a lagoa estava muito cheia e instável. De acordo com o Padre Aires de Amorim, autor da monografia "Esmoriz e a sua História", apenas se safaram deste desastre o barqueiro natural de Paramos e o seu filho. O facto foi comunicado posteriormente pelo administrador da Feira ao respectivo Governador Civil. Acredita-se que este acontecimento tenha acelerado o projecto de construção de uma nova ponte sobre a Barrinha de Esmoriz.
Como podemos constatar, ambas as tragédias ocorreram em Janeiro, durante as temperaturas rigorosas do Inverno. As fortes chuvadas e as impressionantes rajadas de vento constituíam factores mais que suficientes para derrubar qualquer embarcação modesta. Poucos seriam os cidadãos que saberiam nadar e controlar a calma nos momentos mais aflitivos. Outros atreviam-se, por desconhecimento e por falta de cautela, a enfrentar cenários adversos, subestimando os perigos, então pouco visíveis, que se lhes deparavam.
A Barrinha teve também uma história negra, onde perdeu no seu regaço muitos dos filhos que alimentara. Certamente que não o fez por mal, mas porque todos nós temos de partir numa determinada hora, seja onde e como for!
Legendas - Fotos da Barrinha de Esmoriz nos anos de 1965 e 1971.
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