No passado Domingo, decorreram as eleições europeias. Em Esmoriz, a abstenção rondou os 62%, enquanto que a nível nacional, chegou aos 69, 2%. Os números não mentem. Apesar da comunicação social nacional ter dado grande relevância e tempo de antena a estas eleições, a verdade é que os portugueses praticamente não foram às urnas. Por cada série de 10 potenciais eleitores, 7 decidiram ficar em casa.
Como é que isto foi possível?
Em primeiro lugar, a fraca qualidade dos candidatos de quase todas as listas. Uns fizeram do lirismo a sua forma de visionar a realidade actual, outros caíram na crítica gratuita e fácil. E o pior de tudo, falaram pouco da Europa e de eventuais propostas que visassem os interesses portugueses em Bruxelas. Não vale a pena negar. Nenhuma campanha correu propriamente bem. Os que conseguiram bons resultados devem-no à estrutura e à popularidade do partido naquele momento. As Eleições Europeias em Portugal representaram um autêntico vazio de pensamentos e propostas para a Europa. Um "rio de ideias" sem caudal, sem força, sem vida.
Em segundo lugar, o flagelo da austeridade abateu-se sobre Portugal nesta década (2011-2019/2020), fazendo com que os portugueses se afastassem cada vez mais da política. Estão descontentes e muitos já não acreditam numa mudança para melhor.
Em terceiro lugar, o projecto europeu deixou recentemente marcas e feridas nos portugueses. Quem não se lembra dos discursos intransigentes de alguns líderes ou protagonistas europeus contra Portugal, quando o nosso país estava a ser intervencionado pela Troika (e até após essa fase!)? Nós não somos anti-europeístas, mas enquanto existirem Manfred's Webbers a exigirem punições, como poderia ter ocorrido em 2016, contra as políticas orçamentais de Portugal e Espanha (por causa da questão da necessidade de redução do défice), só poderemos demonstrar o nosso desagradado, porque deve haver equidade, harmonia e coesão entre os países europeus, além que os portugueses merecem respeito pelos sacrifícios que fizeram nos últimos anos.
Em quarto lugar, falou-se demasiado do passado. Uns foram buscar José Sócrates, outros Passos Coelho, e perguntamos - para quê? E o futuro? Que ideias têm para a Europa? Uma vez mais, o populismo barato fez parte dos discursos. Muitos preferem continuar na sua "caça às bruxas" em vez de encontrarem a "poção mágica" que alivie as condições económicas e laborais dos portugueses.
Em quinto lugar, responsabilizamos igualmente uma boa parte da comunicação social nacional que deu quase todo o seu tempo de antena aos candidatos dos cinco partidos do costume. Todas as outras 12 candidaturas tiveram poucos minutos, e nem sequer foram chamadas para os debates televisivos. Se tivesse havido verdadeiramente espaço para todos, talvez a abstenção poderia ter caído entre 3 a 5 % com mais votos fora do tradicional arco partidocrata.
Muito sinceramente, as eleições europeias acabaram por ser uma espécie de sondagem reforçada para as legislativas que se realizarão daqui a poucos meses. Mas o problema é que a fraca afluência dos portugueses, motivada pelo período pré-eleitoral pouco convincente, não será um bom cartão de visita em Bruxelas. Recordo que a abstenção de Portugal nas eleições europeias de 2019 foi a sexta maior, tendo sido apenas batida pela Eslováquia (77% de abstenção, a maior de todas), Grécia, Luxemburgo, Itália e Malta. Isto num total de 28 países...
No entanto, preocupa-me ainda mais a reacção dos candidatos que, após os resultados, ignoraram praticamente os números da abstenção, desdramatizando as evidências de alheamento popular. É claro que ainda não se abate sobre Portugal a hipótese do aparecimento de um partido verdadeiramente extremista, mas começa a recriar-se um cenário de terra queimada que pode levar-nos a caminhos mais perigosos já a partir da próxima década.
É altura dos partidos servirem o povo e de aliviarem a carga fiscal/tributária que é insuportável.
Portugal precisa de novas estratégias e visões.
Os discursos gastos já não colam.
Portugal precisa dos portugueses para se fazer respeitar na Europa, e para que isso aconteça, os nossos representantes têm a obrigação de imprimir mais credibilidade e justiça social.
Imagem nº 1 - 751 eurodeputados foram eleitos pelos 28 estados da União Europeia.
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Imagem nº 2 - Os resultados das eleições europeias de 2019 em Portugal.
Direitos do Gráfico: https://www.eleicoes.mai.gov.pt/
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