A polémica mais recente prende-se com o investimento de cerca de 130 mil euros para fins de iluminação e decoração natalícias em Ovar. É uma verba que me parece algo excessiva, mas acredito que, após um ano conturbado, a autarquia tencione oferecer algum consolo e alento, embora anímico neste caso em concreto, aos seus cidadãos, apostando no reforço das iluminações natalícias. Estas poderiam ser importantes se conseguissem chamar mais gente ao município e aos seus estabelecimentos, no entanto, e tendo em conta o seu impacto essencialmente nocturno (porque as "luzes" só brilham à noite), a verdade é que tal coincide com horários em que o confinamento social deve ser observado. Caso contrário, poderia ser um factor atractivo.
Ainda assim, não creio que a iluminação natalícia tenha de ser o cerne da questão porque a mesma é necessária, e já reivindiquei, noutras circunstâncias, um tratamento similar para a cidade de Esmoriz que, em anos anteriores, tardiamente avançava para a decoração natalícia, a qual assentava quase sempre em moldes pouco expressivos. Mas lá está, este é um assunto que não considero prioritário ou urgente. É apenas uma questão de estética ou de valorização da época festiva.
Na verdade, a principal questão do momento centra-se no estado conturbado do comércio e da restauração locais e o que mais pode ser feito para aliviar os prejuízos causados pela terrível conjuntura pandémica. A Câmara Municipal de Ovar apresentou um orçamento para 2021 com menos impostos para empresários e cidadãos, e isso já é, sem dúvida, uma boa notícia. Mas será que chega?
Na nossa opinião, está na altura de se planificar um mega-projecto de sensibilização a favor do comércio local, sobretudo quando a vacina chegar a Portugal a partir do próximo ano. Pensamos que, em 2021, deveriam ser exibidos outdoors em todas as freguesias, promovendo o comércio, a restauração, as lojas e as tradições locais, pedindo às pessoas para que apostem prioritariamente nos "nossos". É preciso criar uma cultura de "Made in Ovar" e de "Made in Esmoriz", divulgando o melhor que cada comunidade tem para oferecer a si mesma e aos outros que a visitam. E aqui a imaginação pode fazer a diferença através de slogans apelativos.
Já que para o ano não vamos ter Carnaval, que tal investir o dinheiro inicialmente previsto para a festividade em mais apoios para os comerciantes/empresários? Porque não atribuir prémios ou bolsas de formação (cursos de vendas online, marketing, comunicação comercial, gestão...) aos pequenos e médios empresários/comerciantes? Porque não realizar workshops por cada sector económico de forma a aferir ou auscultar as reais necessidades dos seus responsáveis? Porque não fazer eventos (mesmo em videoconferência) para que se debatam ideias para novos potenciais apoios a considerar?
Também inevitavelmente o Governo terá de assumir a atribuição de apoios mais ambiciosos para reerguer a economia. Aliás, o Primeiro-Ministro António Costa sabe que a continuidade do seu elenco depende dessas "pontes" tanto para a esquerda como para a direita que devolvam alguma prosperidade ao país já no próximo ano.
Não é fácil estar na pele dos decisores políticos locais/nacionais e dos comerciantes/empresários porque esta conjuntura era inesperada e é bastante difícil lutar contra ela. Podemos escrever muita coisa, mas não há uma receita milagrosa que resolva todos os problemas de uma vez. Mas quando as vacinas começarem a fazer a diferença, é altura da classe política apostar fortemente na recuperação/revitalização económica.
O nosso papel será o de respeitar o confinamento sempre que possível, mas comprar prioritariamente cá dentro (Esmoriz, Ovar e outras freguesias do município).
Está na hora de todos praticarmos um verdadeiro "altruísmo comercial" em prol dos nossos, sem comprometer, claro está, todas as nossas economias familiares.
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