Como todos sabem, Esmoriz sempre foi uma localidade direccionada para a actividade pesqueira. Os contactos estreitos com o Oceano Atlântico, a Barrinha de Esmoriz e o Rio Lambo garantiram, ao longo da história, o sustento de muitos habitantes. Naqueles cursos de água, podiam ser encontrados inúmeros peixes: enguias, tainhas, solhas, robalos, carpas, mugens, sardinhas, chinchorros...
Claro que hoje os pescadores restringem o seu campo de actuação ao nosso Mar, até porque a Barrinha e o Rio Lambo se encontram poluídos, fruto do desenvolvimento industrial das últimas décadas. Mas a história nem sempre foi assim...
Começamos pela Idade Média, época que deverá orgulhar qualquer esmorizense. Entre os séculos XIII-XV, Esmoriz teria um porto medieval que, provavelmente, se situaria na zona da Barrinha.
Aliás, na região que corresponde actualmente ao distrito de Aveiro, apenas Aveiro e a nossa terra ofereciam funcionalidades de âmbito portuário.
Imagem n º 1 - Mapa dos Portos Medievais nos séculos XIII-XV . O Porto Medieval de Esmoriz serviria para abrigar pequenas embarcações.
Imagem cartográfica presente nas obras de Oliveira Marques e Amélia Aguiar de Andrade.
Este mapa pode ser observado, com maior exactidão, em: http://run.unl.pt/bitstream/10362/6840/1/CIUDADES%20Y%20VILLAS%20PORTUARIAS%20DEL%20ATL%C3%81NTICO%20EN%20LA%20EDAD%20MEDIA.pdf (ver página 89 que é a última).
Este mapa pode ser observado, com maior exactidão, em: http://run.unl.pt/bitstream/10362/6840/1/CIUDADES%20Y%20VILLAS%20PORTUARIAS%20DEL%20ATL%C3%81NTICO%20EN%20LA%20EDAD%20MEDIA.pdf (ver página 89 que é a última).
A imagem apresentada não deixa qualquer margem para dúvida. Desde os séculos mais remotos da nacionalidade, constatamos que Esmoriz sempre demonstrara uma vocação para o exigente ofício da Pesca. Os primeiros manuscritos do século XIII assinalam ainda que o povo queixava-se frequentemente do facto de alguns nobres coutarem a Barrinha de Esmoriz. Por outras palavras, os fidalgos queriam apropriar-se deste espaço ambiental e procuravam impedir a entrada de qualquer habitante e por isso, a população arriscava-se a perder a hipótese de usufruir dos bens alimentares oferecidos pela Lagoa. As primeiras reclamações dos populares datam do ano de 1288. Por isso, estes conflitos sobre os direitos da Lagoa marcaram também o período medieval. Era a prova de que, nestes tempos, a Barrinha movimentava interesses e por isso, o ser humano disputava-a, sem hesitar, para garantir a sua própria sobrevivência através das actividades pesqueira e agrícola.
Nos séculos XVI-XVII (já na Idade Moderna), os pescadores de Esmoriz procuram demarcar a sua praia, isto é, o seu "mar" de actuação, chegando mesmo a entrar em conflitos com Cortegaça (no ano de 1617) e com Paramos (no ano de 1664). Nesta época, as Confrarias da região (como a do Santíssimo de Esmoriz) também se envolveram nesta actividade, procurando obter algumas verbas.
Os nossos pescadores demonstravam ainda uma grande devoção pela religião católica. Muitos deles, se lembravam de Santo António, após serem bem sucedidos no alto mar.
No século XIX, surgem finalmente, na nossa terra, as célebres companhas (isto é, "agrupamentos de pescadores, sujeitos a usos e costumes tradicionais, sob a chefia de um governo, dedicando-se à extracção da pesca"). Simplificando, tratam-se de pequenas "sociedades de pesca". A maioria dos pescadores que as compunham eram naturais de Esmoriz, mas também podíamos encontrar indivíduos oriundos de outras localidades (Cortegaça, Paços de Brandão, Vila da Feira, Paramos, Porto...).
Em termos de idades (e citando as estatísticas existentes para o ano de 1829), destaque para o facto de existirem muitos jovens com idade inferior aos 25 anos a praticar esta actividade exigente e perigosa.
De facto, muitas vezes aconteceram tragédias que desgraçavam estas famílias humildes. Por exemplo, em 1798, naufragou uma embarcação da companha de Paramos, causando a morte a 12 pescadores (10 de Paramos e 2 de Esmoriz). O risco era, portanto, real!
Nos séculos XX-XXI, a pesca preserva ainda a sua importante tradição em Esmoriz, merecendo mesmo uma homenagem recente, em forma de monumento.
Imagem nº 2 - Monumento de homenagem às Companhas/Pescadores, fundado em 1997
Fotografia da autoria do Cusco de Esmoriz
Imagem nº 3 - Outro exemplar duma embarcação junto à Praia de Esmoriz
Retirada de: http://www.retinapt.pt/picture/show/3070
Imagem nº 4 - Os Pescadores a entrar no mar de Esmoriz (1988)
Fontes Consultadas:
- AMORIM, Aires de - "Esmoriz e a sua História". Esmoriz: Comissão de Melhoramentos, 1986, p. 228-285; 295-310.
- ANDRADE, Amélia de Aguiar - "A estratégia régia em relação aos portos marítimos no Portugal Medieval: o caso da Fachada Atlântica", p. 57-89.
Olá
ResponderExcluirDescobri hoje, e por mero acaso, este blog.
Fico frequentador.
Parabéns pelo vosso trabalho!
Um abraço
Augusto
Sansoni7, muito obrigado pelos seus elogios e volte sempre! A sua participação é sempre bem vinda!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirSerá com gosto que por cá me manterei e comentarei....aqui e ali.
Afinal sou filho adoptivo de Esmoriz....há quase 30 anos.
Cumprs
Augusto