Decorreu nesta sexta-feira (dia 12 de Junho), o II Encontro de Urbanismo promovido pela Junta de Freguesia de Esmoriz. Uma iniciativa bastante produtiva que merecia, sem dúvida, mais adesão por parte do público (em número diminuto), visto que foram abordadas temáticas de interesse maior para a comunidade. O evento acolheu um workshop realizado por estudantes académicos sobre a EN 109 (artéria que atravessa a Cidade de Esmoriz) e ainda uma panóplia de oradores que debateram o espaço público e a reabilitação urbana. Foram concedidos diversos pontos de vista, promoveu-se a interdisciplinaridade, e prontamente se difundiram ideias ou recomendações muito válidas que poderão ou não ser aplicadas no futuro.
Este encontro iniciou-se às 09:30 da manhã e prolongou-se até às 18:30 da tarde.
Da parte da manhã, cinco grupos de trabalho que totalizavam 33 alunos oriundos das universidades de Aveiro, Lisboa e Gdansk (Polónia) apresentaram as seguintes conclusões do seu workshop sobre a EN 109 (na parte referente à cidade de Esmoriz):
- A necessidade de intervenção nos pavimentos (em estado desprimoroso), de modo a facilitar a circulação.
- A importância da criação de passeios ou espaços laterais para fins pedestres (neste ponto, é essencial incluir as pessoas com deficiências ou limitações físicas que também precisam de se movimentar e que, nesta via, não têm condições para o fazer).
- Ter consciência das vantagens que poderão derivar da reabilitação ou reaproveitamento dos edifícios abandonados.
- A necessidade de travar a poluição e o barulho na referida artéria.
- Um melhor arranjo do espaço público.
- A potencial criação duma rotunda ou dum túnel (esta última hipótese do mencionado túnel, no nosso entendimento meramente subjectivo, não nos parece muito viável, mas é uma visão que decerto respeitamos).
- A possibilidade de pequenos espaços verdes ou de zonas de maior lazer ou comodidade que garantiriam mais esteticismo, harmonia ou dinâmica ao lugar.
- Atenuar ou evitar a proximidade exagerada de alguns acessos de moradias ou estabelecimentos à mencionada estrada.
Em suma, os estudantes portugueses e polacos parecem concordar que é imperioso garantir uma maior acessibilidade ou funcionalidade do espaço (tanto para condutores como para peões), além de evitar um tráfego excessivo na zona. Deve zelar-se ainda pela segurança e bem-estar dos cidadãos, e se possível gerar benefícios económicos e urbanos na referida passagem. É óbvio que estas ideias só seriam aplicadas no âmbito duma regeneração profunda da EN 109, o que exigiria um largo investimento. Todavia, estas propostas consubstanciam ferramentas valiosas que poderão ser levadas em conta no futuro, contribuindo para o rejuvenescimento da dita via, o que decerto seria muito bem aceite pelos esmorizenses que muitas reclamações têm vindo a apresentar, na última década, sobre o estado não muito animador da mesma.
Estes cinco trabalhos originais, então apresentados, foram elogiados pelo Presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz António Bebiano e pelos quatro professores que acompanharam todo este processo que foi levado a cabo nos últimos cinco dias.
Imagem nº 1 - A Estrada Nacional 109 (passagem respectiva a Esmoriz) foi alvo dum workshop onde participaram alunos portugueses e polacos que usufruíram duma experiência de trabalho bastante enriquecedora.
Foto retirada de: http://www.geodruid.com/intl/en/place/722867-bp-posto-de-abastecimento-esmoriz-portugal
Imagem nº 2 - Cinco grupos de trabalho académico (total de 33 alunos orientados por 4 professores) debruçaram-se sobre o estado concreto da EN 109, sugerindo melhorias ou intervenções futuras.
Imagem nº 3 - Os professores enalteceram os esforços dos seus alunos neste workshop.
Da parte da tarde, foi possível escutar os testemunhos e perspectivas de palestrantes, portadores de conceituados currículos, que lidam quase diariamente com a área do urbanismo. Dentro deste contexto, estiveram presentes: Salvador Malheiro (Presidente da Câmara Municipal de Ovar), Domingos Silva (Vice-Presidente da CM de Ovar e vereador do Planeamento e do Urbanismo), Paulo Silva (Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro), Filipe Teles (Professor e Pró-Reitor da Universidade de Aveiro) João Castro Ferreira (Arquitecto e Docente da Universidade Fernando Pessoa - Porto e na Escola Universitária de Artes de Coimbra), Rui Lacerda (Arquitecto que exerce a actividade em gabinete próprio), António Belém Lima (Arquitecto e Director pela "Belém Lima Arquitectos") e Álvaro Santos (Engenheiro e Mestre em Planeamento do Território e Ambiente; Presidente do Conselho de Administração da Porto Vivo - SRU). Os trabalhos foram exemplarmente conduzidos por António Bebiano, Arquitecto e Presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, que também tem vindo a denotar uma maior sensibilidade em torno das questões urbanísticas inerentes à nossa cidade.
Em jeito de síntese, estes especialistas traçaram alguns comportamentos-chave que devem ser tidos em conta ou ponderação:
- Adequar o contributo das universidades para a resolução dos problemas urbanísticos das regiões em que se encontram inseridas. Os centros académicos não devem só formar pessoas, mas também pensar o território no seu redor. As universidades devem igualmente proceder ao reforço da colaboração com os municípios. (Dr. Filipe Teles)
- Apoiar a necessidade dum modelo nacional de urbanismo. No entanto, deve existir uma estratégia local como complemento. (Dr. Paulo Silva)
- A reabilitação urbana deve implicar, cada vez mais, a abordagem da cidade como um todo, isto é, tendo em conta as suas diversas áreas e/ou facetas. (Dr. Paulo Silva)
- O desenho da cidade é fruto da vontade colectiva. É necessário definir que tipo de cidade queremos, mas para isso, temos de a idealizar com rigor e bom senso. (Dr. João Castro Ferreira).
- O conhecimento da história local é um elemento importante a ter em conta no processo de urbanização. Por outro lado, o espaço público deve ser encarado como um lugar de acontecimentos. Também os espaços vazios devem merecer um aproveitamento bem conseguido. (Dr. Rui Lacerda - abordou o panorama urbano da cidade de Espinho, e destacou o projecto futuro que visa a área recente que encima o túnel dos caminhos-de-ferro).
- Muitas vezes, é necessário conciliar a memória física, histórica e a influência contemporânea. A continuidade histórica do património edificado é algo que deve ser encarado como imperioso. Deve também ser valorizada a geometria pictoresca (Dr. António Belém Lima - debruçou-se em especial sobre o Plano Miguel Bombarda que se destina a um espaço isolado mas histórico do centro de Lisboa).
- Uma intervenção correcta no espaço público pode atrair muito investimento privado, beneficiando a economia e o comércio locais. Além disso, poderão ser também criadas novas habitações, ateliers e espaços abertos que privilegiem assim a vertente social e cultural da comunidade. (Dr. Álvaro dos Santos - abordou detalhadamente a experiência da empresa Porto Vivo nas intervenções realizadas no Centro Histórico e na Baixa da Cidade do Porto).
Além das participações destes ilustres convidados, enaltecemos as declarações de Salvador Malheiro e de Domingos Silva que, na qualidade de altos representantes do Município de Ovar, saudaram a iniciativa inovadora da Junta de Freguesia de Esmoriz. O presidente da autarquia recordou que tem estado atento aos dossiers urbanos da cidade da Tanoaria, relembrando que está a decorrer a requalificação da rede viária da zona nascente (Campo Grande e Gondesende) e que, em breve, irão ser intervencionadas as escolas primárias da Torre e Campo Grande, além da Barrinha de Esmoriz e do Esmoriztur estarem bastante perto dum desfecho decisivo que favoreça os interesses da comunidade esmorizense.
Encerrava-se assim um evento onde todos os intervenientes agiram sem condicionalismos, identificando alguns dos erros urbanos da nossa cidade para que os mesmos sejam corrigidos no futuro. Este encontro pautou-se pela criatividade e discussão construtiva, e por conseguinte, superou as expectativas iniciais dos espectadores presentes.
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