"Acordai povo, acordai! Já saiu mais uma edição d'A Má Língua. Vamos ver quem é agora o alvo gratuito da crítica popular".
"A Má Língua" foi um pequeno jornal que nasceu no ano de 1904 (ainda nos tempos derradeiros da Monarquia Portuguesa) pela mão dos senhores Paulo Fernandes de Sá e Lino Pereira Leça, na altura, duas pessoas que faziam parte da fina flor da mocidade esmorizense. Apesar da publicação só ter conhecido seis números (o que atesta a sua efémera duração), a verdade é que nos transmite claramente a identidade bairrista de um povo.
Cada edição chegou a merecer a reprodução de três ou quatro dúzias de exemplares impressos (será que nos dias de hoje ainda se conserva algum?), os quais eram distribuídos pelas praias e outros espaços públicos da então aldeia de Esmoriz. Os mentores - Paulo Sá e Lino Pereira - recorriam à utilização de pseudónimos curiosos. Assim sendo, Paulo era o "Rival" e Lino seria o "Zig Zag". O editor da folha era o Sr. Peixinho que subscrevia os seus artigos com os heterónimos de "Durius" ou de "Demétrio".
Com base numa análise efectuada pelo célebre cidadão esmorizense Sá Ferreira (num artigo publicado em 1993), sobre a composição e organização em torno do primeiro número desse jornal (saído a 8 de Setembro de 1904), podemos logo concluir que várias temáticas sociais foram passíveis de análise nomeadamente: a instrução, a educação, as crónicas da pátria, a obsessão cruel pelo dinheiro, a componente literária, o debate de enigmas...
No entanto, o pasquim foi "sol de pouca dura", dado que a ausência de apoios privados e o elevado analfabetismo popular não favoreceram a sua afirmação local. Ainda assim, as edições reflectem as intenções dos seus autores em combater a indiferença, pugnando pelo progresso da sua terra. O recurso a pseudónimos por parte de redactores esmorizenses também poderá encontrar aqui a sua génese.
O estilo editorial jocoso, mas em simultâneo, intelectual conseguiu dotar esta publicação de originalidade. Segundo Sá Ferreira, o jornal seria copio-grafado numa folha de papel costaneira e escrito à mão.
Os espíritos acesos e irreverentes daqueles três moços "reencarnaram" certamente noutros escribas esmorizenses que diariamente continuam a lutar pelo progresso desta terra plantada à beira-mar.
Infelizmente, não logramos aceder a nenhum exemplar "resistente" desse antigo jornal, contudo não poderíamos deixar de veicular as informações que conseguimos apurar em torno da sua existência.
Poema Humorístico e Bairrista do Cusco de Esmoriz dedicado ao Jornal A Má Língua
Nós todos somos más línguas,
Com muito orgulho e devoção!
Denunciamos cada festival de hipocrisia
Dos falsos púdicos e moralistas
Que nos enfastiam com a ilusão!!!
Ai ai ai! Que eles não gostam de nós,
Paciência, enviemos um grande melão para eles!!!
Preferimos ser antes cuscovilheiros e perspicazes,
Do que filhos da vã indiferença!!!
Respeitem as nossas destemidas "más línguas",
Essas que sempre defenderam a nossa terra,
No seu engrandecer da filosofia bairrista,
No seu zelo pelo progresso local
Num grito difundido por todo o mundo:
Sim, os esmorizenses são superiores em erudição,
Ora por tradição ora por convicção!
Somos e seremos más línguas, sim senhora,
Mas não, não somos invejosos,
Porque sabemos que reside em nós a intelectualidade,
Nem tampouco somos vendidos,
Porque todos querem afinal ser da terra da Tanoaria!
Quanto aos outros, olhai aí para a vossa dor do cotovelo,
Coloquem pomada por precaução,
Porque vêm aí o Rival, o Zig Zag e o Peixinho,
Ai ai ai...
Eles estão mal-dispostos!!!
Escondam-se debaixo da mesa,
Avizinha-se um terramoto de pseudónimos
Com um elevado grau na escala de Richter
Que logo fará abanar as elites vaidosas,
Neste eterno combate contra a resignação!
Nota-extra: Este poema, redigido de forma muito simplista, deve ser lido em jeito de humor, embora esteja evidentemente implícita uma lição moral que se deve extrair no meio disto tudo. O povo de Esmoriz tem um enorme orgulho na sua identidade, e não hesita em defender o seu bairrismo, mesmo que para isso tenha de ser, de vez em quando, "má língua". Mas uma coisa é certa - somos uma comunidade com grandiosas virtudes.
Referências Consultadas:
O estilo editorial jocoso, mas em simultâneo, intelectual conseguiu dotar esta publicação de originalidade. Segundo Sá Ferreira, o jornal seria copio-grafado numa folha de papel costaneira e escrito à mão.
Os espíritos acesos e irreverentes daqueles três moços "reencarnaram" certamente noutros escribas esmorizenses que diariamente continuam a lutar pelo progresso desta terra plantada à beira-mar.
Infelizmente, não logramos aceder a nenhum exemplar "resistente" desse antigo jornal, contudo não poderíamos deixar de veicular as informações que conseguimos apurar em torno da sua existência.
Imagem retirada de: http://estadosentido.blogs.sapo.pt/2130176.html
Nós todos somos más línguas,
Com muito orgulho e devoção!
Denunciamos cada festival de hipocrisia
Dos falsos púdicos e moralistas
Que nos enfastiam com a ilusão!!!
Ai ai ai! Que eles não gostam de nós,
Paciência, enviemos um grande melão para eles!!!
Preferimos ser antes cuscovilheiros e perspicazes,
Do que filhos da vã indiferença!!!
Respeitem as nossas destemidas "más línguas",
Essas que sempre defenderam a nossa terra,
No seu engrandecer da filosofia bairrista,
No seu zelo pelo progresso local
Num grito difundido por todo o mundo:
Sim, os esmorizenses são superiores em erudição,
Ora por tradição ora por convicção!
Somos e seremos más línguas, sim senhora,
Mas não, não somos invejosos,
Porque sabemos que reside em nós a intelectualidade,
Nem tampouco somos vendidos,
Porque todos querem afinal ser da terra da Tanoaria!
Quanto aos outros, olhai aí para a vossa dor do cotovelo,
Coloquem pomada por precaução,
Porque vêm aí o Rival, o Zig Zag e o Peixinho,
Ai ai ai...
Eles estão mal-dispostos!!!
Escondam-se debaixo da mesa,
Avizinha-se um terramoto de pseudónimos
Com um elevado grau na escala de Richter
Que logo fará abanar as elites vaidosas,
Neste eterno combate contra a resignação!
Nota-extra: Este poema, redigido de forma muito simplista, deve ser lido em jeito de humor, embora esteja evidentemente implícita uma lição moral que se deve extrair no meio disto tudo. O povo de Esmoriz tem um enorme orgulho na sua identidade, e não hesita em defender o seu bairrismo, mesmo que para isso tenha de ser, de vez em quando, "má língua". Mas uma coisa é certa - somos uma comunidade com grandiosas virtudes.
Referências Consultadas:
- AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua História. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, 1986.
- FERREIRA, José de Sá - A Má Língua in Revista Esmoriz Recordando o seu Passado. Ed. Danças e Cantares de Santa Maria de Esmoriz. Gráfica Brandoense, 1993.
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