Um Natal com luz nos corações
(Texto/Crónica da autoria de Ana Roxo*)
Há muito, muito tempo, quando se vivia o verdadeiro, o autêntico, o original, o genuíno, o legítimo, o fidedigno, o puro espírito de Natal; não havia eletricidade, mas havia luz nas almas e nos corações. A luz artificial vinha das velas e dos candeeiros a petróleo.
Contudo, concentremo-nos na nossa história e, como em todas as histórias de Natal, as crianças são as personagens principais. Podemos aprender grandes lições com estas pequenas grandes pessoas!
Ora, pois bem, este é um conto sobre dois irmãos, que tal como Jesus, nasceram num velho casebre. Aliás, eles ainda moravam lá com os seus pais e os seus animaizinhos de estimação.
Eles e a sua família tinham muito pouco; mesmo assim, isso não era impeditivo para ajudar outras pessoas.
Não havia iluminação como temos hoje nas aldeias, vilas e cidades – algo impensável para as crianças e os adultos do presente e, que estão tão dependentes da energia elétrica, que já nem saberiam viver sem ela. O que seria da internet, dos telemóveis, dos tablets, da televisão?
Esta era uma família de tempos idos, uma história de um tempo passado, uma narrativa, que por muitos anos, se perdeu nas memórias dos tempos e, que, mais tarde foi encontrada num velho baú de uma casinha abandonada por um grupo de crianças.
No meio do pó e dos destroços da casa abandonada, lá estava escrita num livro velho e gasto aquele belíssimo relato de acontecimentos do passado: a história de Matilde e de Nuno e de seus pais.
O pai era lenhador e a mãe costurava para fora. O dinheiro era pouco; mesmo assim, eram felizes e ajudavam aqueles que eram mais pobres do que eles. Por vezes passavam fome ou comiam menos para repartir com os outros. Até as roupas pobres, mas feitas com carinho que a mãe deles fazia, servia para outras crianças e, até para adultos.
Então, para acabar com este chorrilho de palavras, passaremos à nossa história e esta reza assim:
Na casa de Nuno e de Matilde (a casa onde as crianças encontraram o velho livro), reinava a bondade e abnegação, a entrega e a dedicação ao outro. Todos os dias se vivia o espírito de Natal. Claro que no Natal, se notava ainda mais esse espírito. Toda a gente os conhecia. Muitas vezes os ricos não ajudavam os mais pobres. Viviam afogados na sua riqueza balofa, no seu egoísmo atroz e queriam lá saber das dificuldades dos outros. Havia exceções, obviamente; todavia, na casa daquela família com muitas necessidades, o amor ao próximo era sempre o mote.
Era muito bonito o que eles faziam: e eram todos- mãe, pai, avó materna e crianças. Sim, só esta avó, porque os outros avós já tinham ido ver a luz lá naquele sítio onde começa e termina a nossa viagem.
Eles nem sempre tinham prendas, mas, afinal, não é sobre receber prendas o verdadeiro espírito de Natal – a maior prenda deles era dar e receber depois, os sorrisos das pessoas. Já havia algum consumismo; conquanto, não ligavam nada a isso. Os pobres comiam também das refeições deles. Eram parcas, mas saborosas e saboreadas com amor. Ofereciam abrigo a quem não tinha; por vezes, no celeiro onde tinham as suas galinhas e os seus porquinhos. Aprenderam que a luz real do Natal e a luz da Humanidade, não é aquela que é artificial, mas aquela que brota dos corações, aquela que emana da alma. Sim, as luzes, artificiais são lindas, sem dúvida, mas faz-se o Natal sem elas, já sem a verdadeira luz, não há Natal, há…sei lá o que há, porém, Natal, não é.
Hoje, teríamos muito a aprender com esta família. Sim, é importante, estar com a família e ter o que comer e casa onde estar, sim, é bonito ver a carinha feliz das crianças a receber as prendas. Sim, é bonito ver as iluminações de Natal. Não, não é bonito fazer uma «guerra» de prendas para ver se a minha é melhor do que a tua, não, não é bonito fazer «guerras», porque na terra do vizinho tem mais iluminação artificial do que no meu cantinho. Não, não é isso, o mais importante.
Hoje vivemos com os corações escondidos no meio do pó e dos destroços do nosso egoísmo, mas será que esperamos que alguém seja salvador de corações e os resgate do meio do pó da vida, das ruínas da nossa insensatez? Ou será que estará nas nossas mãos o resgate dos nossos corações, o resgate do espírito de Natal, o resgate de nós mesmos?
E será que não haverá Natal sem prendas ou luzes? Sejam os Nunos e as Matildes desta vida!
*Licenciada em Estudos Portugueses e Alemães
(Poetisa e Escritora de Contos Infantis, natural de Esmoriz)
Imagem meramente exemplificativa retirada da página "Pintora de Palavras" no Facebook
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