Quando Está Frio no Tempo do Frio
(Poema da autoria de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa)
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.
Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência.
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o Mundo.
Imagem nº 1 - O célebre poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) utilizou vários heterónimos para expressar os seus diversos estados de espírito.
Quadro da autoria de Ana Gabriela retirado de: https://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/nao-sei-quantas-almas-tenho-fernando-pessoa.html
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