Um atentado terrorista em Nice, ocorrido no dia 14 de Julho (feriado nacional em França devido às comemorações da Tomada da Bastilha), causou 84 mortos. Um jihadista tunisino, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, pegou num camião frigorífico e atropelou um mar de gente à beira-mar, incluindo inúmeras crianças. O atentado cruel já foi reivindicado pelo Estado Islâmico. É curioso que a União Europeia e o Ocidente em geral ainda não aprenderam nada com os atentados de Paris e Bruxelas. O Estado Islâmico, apesar de se encontrar mais debilitado, continua a existir, e infelizmente, já dispõe de ramificações ou células no interior da Europa. Neste ponto, voltamos a perguntar - a quem é que interessa a existência do Estado Islâmico? Existirão mesmo interesses relacionados com o armamento e o petróleo que impedem a extinção imediata daquele califado terrorista? A quem interessa a manutenção do conflito atroz na Síria? O que é que a ONU e a UE andam a fazer no meio disto tudo? São perguntas que têm de ser feitas. Na nossa opinião, já há muito tempo que se justificava a entrada de uma força internacional de paz (os célebres "capacetes azuis") na região. No entanto, continua-se a seguir apenas a política dos bombardeamentos cirúrgicos que, apesar de enfraquecerem o inimigo, não o eliminam.
Falta firmeza política aos líderes ocidentais que infelizmente se encontram demasiado empenhados nas matérias financeiras, ignorando o mundo que os rodeia.
Foto - REUTERS/Eric Gaillard
Na noite do dia seguinte ao atentado hediondo verificado em França, irromperia uma tentativa de golpe de estado na Turquia, essencialmente testemunhada nos pontos nevrálgicos das cidades de Ancara e Istambul. Os militares que alegadamente pretendiam instaurar um regime mais laico/secular e democrático foram travados pela resistência popular e pela polícia pró-Erdogan. Ao todo, já se contabilizam, neste preciso momento, mais de 300 mortos, nos conflitos travados entre soldados, polícias e civis.
Por um lado, é verdade que, se o golpe de estado fosse bem sucedido, poderia ocasionar uma guerra civil semelhante à da vizinha Síria. Uma Turquia absolutamente instável tornar-se-ia num alvo bastante apetecível para os extremistas e terroristas. No entanto, o presidente turco Recep Erdogan, visto como grande vencedor deste braço-de-ferro, está longe de ser considerado um democrata, mesmo tendo sido eleito num sufrágio minimamente transparente. O líder turco já começou a fazer uma limpeza no Exército e na Justiça, mandando fazer detenções (já vão em 6 mil!) para todos os gostos. Recordamos que, nos últimos tempos, muitos órgãos de comunicação social tinham sido encerrados só porque estavam presumivelmente conotados com a oposição ao regime. Mais grave ainda, Erdogan está disposto a reintroduzir a pena de morte para castigar os responsáveis pelo golpe de estado, e para isso, conta agora com a colaboração de uma Justiça perfilada a seu gosto. Não será por isso difícil ignorar ou desmontar o facto deste golpe de estado ter ocorrido num enquadramento legal que não previa a pena de morte. Por outro lado, o acesso às redes sociais tem sido condicionado na Turquia. Como se não bastasse, existem suspeitas recorrentes de que este país da Anatólia esteja a comprar secretamente petróleo ao Estado Islâmico. A Turquia parece caminhar a passos largos para uma ditadura repressiva sem respeitar a transparência e a isenção necessárias. Mais uma vez, o Ocidente está de braços cruzados e pode até nem esgrimir qualquer gesto para acalmar diplomaticamente a situação.
Foto - Bulent Kilic/AFP/GETTY IMAGES
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