quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Uma Casa de Memórias por desenterrar (in Jornal A Voz de Esmoriz)

De acordo com dados oficiais, Portugal tinha, em 2017, um total de 653 casas florestais. Destas, 393 (isto é, a maior parte) estariam devolutas e ao abandono já há várias décadas. Dentro deste contexto, podemos elencar aqui alguns edifícios sobejamente conhecidos que se encontram perdidos em lugares com paisagens idílicas. Assim sendo, temos os exemplos das antigas Casas dos Guardas Florestais que, apesar de vazias e esquecidas, se situam na Serra da Freita (Arouca), em São João de Arga (Alto Minho), em Pinhal do Rei (Leiria), no Gerês (Peneda), entre outros locais apaixonantes.
Embora saibamos muito pouco sobre ela, a Casa da Guarda Florestal de Esmoriz não deverá ter reivindicado uma importância similar à das anteriores, dado que os seus antigos oficiais não estariam incumbidos de guardar serras, paisagens ou florestas de grandes dimensões. É certo que tal edifício, situado à entrada do trajecto florestal que iria dar seguimento até ao Furadouro, teria certamente a sua relevância, tal como a outra casa da guarda florestal, já localizada em Ovar, que também deveria prestar cooperação na preservação de toda aquela mancha florestal. Mas relembramos o leitor que não possuímos dados históricos sobre a sua existência. Aires de Amorim não parece fazer referência sobre este assunto na monografia “Esmoriz e a sua História”, pelo que teríamos de efectuar uma investigação mais profunda de forma a obtermos dados cronológicos relativos à utilização do edifício, bem como as tarefas que os seus funcionários teriam que desempenhar, nomeadamente ao nível da vigilância. 
No entanto, da visita que efectuamos em meados de Janeiro, à Casa da Guarda Florestal de Esmoriz (situada nas imediações do Parque Ambiental do Buçaquinho, este inaugurado recentemente em 2013), constatámos que, do ponto de vista arquitectónico, este espaço não era em si muito diferente dos outros que existiam ao longo do país. De pequenas dimensões, dividida por compartimentos interiores (cada um dotado com uma janela lateral), seria minimamente funcional para que os guardas florestais pudessem utilizar a casa com o mínimo de dignidade e comodidade (haveria ainda uma chaminé, mesas nas salas e os próprios sanitários). Nas traseiras, vislumbramos um anexo que possivelmente (embora aqui sem certezas) poderá ter servido de “estaleiro” ou “garagem” para materiais ou equipamentos inerentes à função. Mas uma vez mais, o silêncio e o vazio imperam sobre aquele lugar, não nos dando muitas respostas. 
No que diz respeito ao seu estado actual, concluímos rapidamente que o mato nas traseiras já merecia alguma manutenção, e alertamos que a visita ao interior do edifício não é de todo recomendável, dado que existem vidros (as janelas estão todas destruídas) e pedras espalhadas no chão, além de um buraco presente no pavimento perto da porta de entrada. 
Em 2017, António Costa e o Governo deixaram no ar a ideia de que muitas destas casas poderiam vir a ser de novo reabilitadas, de forma a travar a destruição do património florestal (muito por culpa dos incêndios). Mas uma vez mais desconfiamos das promessas políticas, muitas vezes, filhas bastardas de um contexto oportuno.



































Artigo publicado na mais recente edição do Jornal A Voz de Esmoriz, Dir. Agostinho Fardilha, Emanuel Bandeira. Edição de 25/01/2019. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos de Esmoriz, 2019, p. 6 

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