Após os resultados eleitorais deste passado Domingo, a Assembleia da República irá reforçar o seu multipartidarismo através da representatividade vindoura de dez forças políticas, a saber: o Partido Socialista, o Partido Social Democrata, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e os Verdes, o CDS-PP, o PAN, o Chega, o Iniciativa Liberal e o Livre.
Mas centremo-nos nestes três últimos que doravante terão assento parlamentar. São todos eles partidos que não se revêem no actual sistema.
O Chega, liderado por André Ventura, conseguiu 1,3% dos votos e assume-se como a força política mais indignada com a situação actual do país. Num discurso efusivo (e algo populista) já nas imediações da Assembleia da República, André Ventura prometeu um combate total contra a corrupção e pintou o cenário de um país com menos impostos e menos injustiças sociais. A imprensa portuguesa tem vindo a associar este partido a uma ideologia típica de extrema-direita que assenta no nacionalismo e em projectos que poderão não ser realisticamente concretizáveis. André Ventura rejeitou entretanto as acusações de discriminação e de racismo, defendendo apenas que todas as etnias ou raças devem cumprir, de igual modo, as mesmas leis ou regras.
A Iniciativa Liberal (também obteve praticamente 1,3% dos votos) é uma força política de direita, embora mais moderada em relação ao Chega. Ainda assim a sua campanha contra o socialismo foi bastante aguerrida, inclusivamente exacerbada, denunciando até à exaustão o caso de Tancos e um eventual nepotismo dentro de algumas estruturas do actual governo. Mas a Iniciativa Liberal não se cingiu apenas aos ataques acérrimos, difundindo também algumas ideias do seu programa. Este partido defende a menor participação possível do Estado na economia, e por isso, vê com bons olhos mais privatizações e custos mais reduzidos para os cidadãos. Os seus dirigentes alegam que a ADSE deve ser alargada aos trabalhadores privados, isto além dos funcionários públicos que já usufruem deste benefício em termos de cuidados de saúde.
Fundado pelo historiador Rui Tavares, o Livre, que nasceu de uma dissidência do Bloco de Esquerda, conseguiu eleger Joacine Katar Moreira (com 1,1% dos votos), a qual irá defender os direitos das minorias, das mulheres e dos grupos sociais mais prejudicados. É um partido de esquerda alternativo, de pendor europeísta.
Por outro lado, a noite seria de esquecer para o Aliança (de Pedro Santana Lopes), o RIR (de Tino de Rans) e o Partido Democrata Republicano (de Pedro Pardal Henriques e Marinho Pinto) que não conseguiram eleger qualquer deputado.
Em jeito de rescaldo final, consideramos que a entrada de novos partidos no Parlamento é sempre uma boa notícia. A Iniciativa Liberal e o Livre podem ser agradáveis surpresas. Em relação ao Chega, temos mais dúvidas, contudo é necessário esperar para ver.
Os sonhos arregimentados do voto útil e das maiorias absolutas estão a transformar-se em mitos, dada a fragmentação verificada tanto à direita como à esquerda. E isso é bom sinal porque implica negociações, cedências e a combinação de perspectivas políticas diferentes. Nunca devemos fechar os olhos perante novas ideias!
O que mais nos preocupou nestas eleições foi, sem dúvida, a abstenção que bateu os recordes nacionais, superando a realidade já muito preocupante de 2015. Em vez dos 44,1% verificados naquele ano de 2015, temos agora em 2019 uma ausência de participação que se ficou pelos 45,5% . É preciso explicar este fenómeno e perceber porque é que as pessoas não vão votar. Será por causa do descrédito em torno do sector político? Será que os serviços de algumas mesas de voto têm funcionado de forma inaceitável, não dando resposta célere sobretudo em momentos de elevada adesão? Haverá transportes em determinadas regiões para que a população mais idosa possa ir votar? Será que nalguns distritos onde se elegem menos deputados, a campanha passa mais ao lado?
Imagem nº 1 - André Ventura tem sido o rosto do Partido Chega, ultimamente conotado com a extrema-direita.
Imagem nº 2 - A Iniciativa Liberal tem criticado ferozmente o socialismo. Carlos Guimarães Pinto e João Cotrim de Figueiredo são as principais individualidades deste partido fundado recentemente.
Retirada de: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/hoje-fizemos-historia-iniciativa-liberal-elege-um-deputado (Direitos da Foto: LUSA)
Imagem nº 3 - O Livre promete defender os mais desfavorecidos, e repudiar o racismo e o fascismo.
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