segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Professor Eduardo Ferreira é destaque no Jornal Online da Universidade de Aveiro

Professor UA – Eduardo Ferreira, Departamento de Biologia
Uma ponte chamada Ecologia em direção ao futuro do planeta


Inspira Biologia, expira Ecologia, inspira conservação da vida selvagem e expira gestão da biodiversidade. Eduardo Ferreira respira Natureza. Professor no Departamento de Biologia (DBio) da Universidade de Aveiro (UA), amante de caminhadas ao ar livre e apaixonado pela observação das espécies que acompanham o Homem na viagem da vida, não se cansa de lembrar aos estudantes que “os humanos são apenas uma das incontáveis espécies do planeta” e que todas estão ligadas e interdependentes. Por isso, conservá-las é conservar a própria Humanidade.
No DBio concluiu a Licenciatura em Biologia em 2002 e o Programa Doutoral em Biologia em 2011. Pelo meio fez o Mestrado em Ecologia, na Universidade de Coimbra, tendo como foco a diversidade e estrutura genética do javali, em Portugal. Realizado no âmbito da colaboração entre o DBio e a Universidade Federal do Tocantins (Brasil), o trabalho de doutoramento de Eduardo Ferreira centrou-se na biodiversidade e conservação de répteis e anfíbios que habitam entre as zonas do Cerrado e da Amazónia, mais precisamente da região do Rio Araguaia.

Depois do doutoramento, rumou para a Universidade de Cabo Verde onde foi professor, coordenador-adjunto dos cursos da área da Biologia e membro do Conselho Científico. Regressou há 4 anos à UA onde, para além da docência no Mestrado de Ecologia Aplicada, faz investigação no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) nas áreas de conservação e gestão de vida selvagem e da biodiversidade e a aplicação das ferramentas da ecologia molecular a este contexto. Tem também colaborado em projetos ligados à educação e sensibilização ambiental.




Ricardo Ferreira



Qual é o segredo para se ser bom professor?

Não sei responder a esta pergunta. Mas penso que é algo que se vai trabalhando, aprendendo. Penso que passará sempre por manter uma relação franca e honesta com os alunos e conseguir cativá-los e despertar paixão, ou pelo menos interesse, por aquilo que ensinamos. Penso que passará também por ser exigente e ensiná-los a estudar e trabalhar de forma independente. Lembro-me que enquanto aluno, não necessariamente os melhores professores que tive foram os que lecionavam as disciplinas com que me identificava mais. Houve muitas disciplinas que foram uma agradável surpresa para mim e muito por causa da abordagem interessada e interessante que os professores faziam aos temas. Hoje em dia, fico particularmente preocupado quando as aulas que dou não resultam em perguntas. Não sei se bem ou se mal, mas assumo que foi porque não consegui despertar a curiosidade.


O que mais o fascina no ensino?

Gosto de aprender e uma das coisas que mais me fascina no ensino é a necessidade e a possibilidade de aprendizagem constante. Gosto de pensar no ensino como um processo de ensino-aprendizagem com dois sentidos. É verdade que a função do docente e do aluno neste processo são, por definição, distintas. No entanto penso que há também espaço à aprendizagem por parte do docente. Esta aprendizagem pode resultar quer da necessidade constante de atualização, quer da interação com os alunos. Antes de lecionar, já fazia investigação e esta continua a ser a minha principal ocupação. É frequente dizer-se que, no caso do ensino universitário, a nossa investigação deve refletir-se nas aulas que damos, e eu concordo. Contudo, considero que esta é também uma via de dois sentidos e que as aulas que lecionamos, e a aprendizagem a que atividade lectiva obriga, também tem um impacto muito positivo na investigação que fazemos. Em suma, o que mais me fascina no ensino, em particular o universitário, é a íntima relação entre ensino e investigação e a busca constante de conhecimento a que ambas as atividades obrigam.


Como qualifica a formação que é dada aos estudantes no(s) curso(s) a que está (esteve) ligado?

Nos últimos anos, tenho lecionado disciplinas (e orientado alunos) maioritariamente no âmbito do mestrado de Ecologia Aplicada. Na minha opinião, este curso de mestrado tem vários pontos fortes e seria um mestrado que teria ponderado seguir no final da minha licenciatura. Em primeiro lugar – e de acordo com o que penso ser uma filosofia muito semelhante à da licenciatura em Biologia – o curso tem uma forte componente de disciplinas optativas. Em cinco das unidades curriculares do primeiro ano (ou seja, 50%), o aluno pode optar pelas disciplinas que considerar mais adequadas aos seus objetivos. Esta abordagem transfere uma parte substancial da responsabilidade na definição do percurso de formação para o aluno, responsabilizando-o. Considero isso muito positivo e diferenciador.
Outro ponto que considero muito positivo é o foco na aquisição de competências. Na verdade, além da informação que é fornecida aos alunos, há uma preocupação em desenvolver neles competências, tais como: busca e análise crítica de literatura científica; identificação de problemas e desenvolvimento de hipóteses; desenho de projetos de investigação e de monitorização; gestão e de dados, análise estatística e interpretação de resultados; escrita científica; etc. Penso que estas competências, que fazem parte da formação oferecida no primeiro ano, ajudam a educar para uma cultura científica e serão muito úteis logo no desenvolvimento das suas teses de mestrado. Numa perspectiva mais lata, irão dotar os alunos de ferramentas para a sua vida profissional e para que possam, também, dar continuidade ao seu percurso de formação.
Por fim, um terceiro ponto que considero importante é o foco no estudo da ecologia num mundo em uso, fortemente influenciado pelo Homem. Na verdade, no programa curricular de várias disciplinas, está presente o foco na relação Homem-Natureza (que pode ser sinérgica ou antagónica), nos impactos antropogénicos e na forma como as outras espécies lidam (melhor ou pior) com a “omnipresença humana”.


Que grande conselho daria aos alunos?

Com 37 anos de idade e apenas cinco anos de ensino, penso que me falta a autoridade para grandes conselhos. Mas posso partilhar uma linha pela qual tentei pautar-me durante o percurso que ainda vou construindo, na esperança que possa ser útil. Dentro do possível, façam o que vos apaixona e coloquem essa paixão no que fazem. Penso que esse é meio caminho para serem felizes e serem bons profissionais. Quando escolhi o curso de Biologia, ouvi muitas vezes as perguntas que certamente muitos estudantes de Biologia ouviram: Para que serve esse curso? Onde é que vais arranjar trabalho? Não era melhor escolheres algo que garanta um emprego a sério? Felizmente, sempre tive o apoio incondicional para poder escolher o meu percurso com a liberdade possível. E se há algum pensamento que pode apaziguar as dúvidas dos futuros biólogos sobre o seu papel no mundo, penso que poderá ser este: há tanta gente a estudar a espécie humana e as mais diversas questões relevantes para a espécie humana, mas os humanos são apenas uma das incontáveis espécies do planeta. Alguém tem que estudar as outras espécies e aquilo que afeta as suas vidas! De um ponto de vista evolutivo, estamos todos ligados e somos interdependentes. Mesmo de uma perspectiva antropocêntrica, estudar as outras espécies e promover a sua conservação e gestão adequada será sempre útil para a humanidade.


Houve alguma turma que mais o tivesse marcado? Porquê?

Assim à primeira vista, não tenho nenhuma turma que me tenha marcado mais do que as outras, pois guardo boas recordações de praticamente todos os alunos. No geral, prefiro dar aulas a turmas pequenas, pois gosto da dinâmica que se gera quando conseguimos ir conhecendo os alunos durante as aulas. Nesse sentido, guardo um carinho especial pela primeira turma a quem dei aulas. O primeiro ano em que lecionei de forma regular foi 2011, na Universidade de Cabo Verde, no Mindelo. Antes tinha apenas colaborado pontualmente na lecionação. A turma do segundo ano do curso de Biologia Marinha e Pescas tinha cerca de 35 alunos e lecionei duas disciplinas em cada semestre a esta turma. No início do primeiro semestre, fizemos um acordo: eu aprenderia a falar crioulo e eles aprenderiam biologia. Mal ou bem, até hoje o crioulo de “Soncent”, que aprendi em grande parte com eles, não ficou esquecido mas espero que eles tenham aprendido mais biologia do que eu aprendi crioulo.  Ainda hoje me lembro de todos pelo nome e vou conseguindo ir acompanhando o percurso de vários. A relação que ficou com esses alunos, hoje em dia muitos deles colegas biólogos, é para a vida.
Mais recentemente, tenho gostado muito da dinâmica que se tem criado com as turmas da disciplina de Biologia e Ecologia Tropical. A ideia desta disciplina de mestrado é abrir os horizontes dos nossos alunos para aquela que é uma das últimas fronteiras terrestres na descoberta da biodiversidade: os trópicos. Além disso, tentamos – tanto quanto possível – introduzir os alunos à prática científica, ao desenho e execução de projetos de investigação e à redação e apresentação de resultados científicos. A receptividade dos alunos tem sido muito boa e alguns têm agarrado o desafio com muita garra. Por exemplo, no início de 2017 está prevista a publicação, numa revista científica, do trabalho que três alunas desenvolveram durante a segunda edição da disciplina, no qual trabalharam mais cerca de um ano após concluírem a unidade curricular e que conseguiram submeter com sucesso.


Pode contar-nos um episódio curioso que se tenha passado em contexto de sala de aula ou com estudantes?

Já passei por situações mais e menos desagradáveis em sala de aula, mas não me lembro de nenhuma que tenha sido particularmente memorável (pelo menos enquanto docente!).


Traço principal do seu carácter

De que me acusam mais frequentemente? De ser teimoso e falador.


Ocupação preferida nos tempos livres

Ar livre! Caminhar, observar, fazer desporto ou outra atividade qualquer... Mas ao ar livre!
O que não dispensa no dia-a-dia.
Durante a semana, estando bom tempo e havendo tempo, gosto da caminhada da estação para a UA e da caminhada de regresso.


O desejo que ainda está por realizar

Não tenho nenhum desejo em especial. Nas palavras de um grande amigo, há a realidade que projetamos e aquela que vamos construindo, que nem sempre são a mesma e, nesses casos, temos que fazer opções. Tenho sido feliz com a realidade que vou construindo e com as opções que tenho feito. Gosto de pensar na vida como um passeio aleatório, pelo que o meu maior desejo é continuar neste passeio aleatório, de preferência com muitos máximos locais pelo caminho, por muitos e bons anos.




descrição para leitores de ecrã

Reportagem e Fotos retirados integralmente do Jornal Online da Universidade de Aveiro



Nota-Extra - É uma honra ver um esmorizense a dar cartas no panorama nacional. Esmoriz é arte, cultura e ciência. Já agora excelente reportagem e entrevista realizados pelo Jornal Online da Universidade de Aveiro.

Um comentário:

  1. Decidimos reproduzir a entrevista do Jornal Online da Universidade de Aveiro porque achamos que era pertinente divulgar o trabalho deste docente esmorizense em prol do estudo da biologia.

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