Fez, no passado dia 8 de Julho, 35 anos que fui ordenado padre para o serviço da diocese do Porto.
Desde aí que tenho a convicção, cada vez mais convicta, de que um padre não deve estar demasiado tempo num lugar ou numa missão. Estabeleci para mim que entre 10 e 15 anos seria uma boa margem: dava liberdade ao padre e ao bispo para ir pensando e decidir o momento mais oportuno. Quem me conhece, desde há 35 anos, ouviu-me repetir essa disposição muitas vezes. E eu repetia essa intenção em primeiro lugar para mim: para não me esquecer e não me deixar instalar, e manter essa liberdade interior, mesmo sabendo que não é fácil mudar, ainda mais quando se está bem.
No próximo dia 4 de Setembro, fará 14 anos que sou pároco de Matosinhos. 14 anos muito bons, muito ricos, muito gratificantes, muito fecundos, passe a possível imodéstia.
Mas chegou a hora de mudar. Já tinha manifestado a minha convicção e disponibilidade ao Dom António Francisco, para que ele tivesse isso em conta e fosse pensando no que me pediria a seguir. Ele disse-me que concordava comigo e que cuidaria disso. Mas faleceu inesperadamente, como sabemos.
Voltei a dizer o mesmo ao novo bispo, Dom Manuel Linda, e ele aceitou este ano, essa minha disponibilidade. A partir de Setembro – ainda não sei datas, as nomeações sairão esta semana – deixarei de ser pároco em Matosinhos e passarei a ser pároco em Esmoriz.
Era isto que gostava de anunciar hoje a toda a paróquia.
Mas deixem-me acrescentar mais algumas palavras.
Sei – todos acreditamos – que é o Espírito Santo a alma, a vida da Igreja. O Espírito que é vento, fogo, movimento. Não podemos ser nós, não posso ser eu, a travar essa dinâmica criativa e renovadora do Espírito, acomodando-me ou agarrando-me a este ou aquele lugar. Só o movimento gera vida e renovação. Sempre lembrei, insisti e procurei essa atitude e disponibilidade, para mim e também para os servidores da paróquia.
Hoje, a Missão precisa ainda mais desta agilidade, ‘capaz de mudar tudo’, como repete o papa Francisco.
Ao contrário da cantiga – e do que acontece hoje muitas vezes – este é um ‘parto com dor’. Mas sei que é a dor do crescimento, do meu crescimento, do crescimento desta amada paróquia de Matosinhos, e também certamente do crescimento da paróquia para onde o bispo me envia agora. Se nos soubermos enviados e nos quisermos fiéis a Deus, todos cresceremos na fé e na Missão.
Continuo a gostar muito de ser padre. E continuarei a tentar pôr sempre o bem da Igreja à frente das minhas preferências ou conveniências. Na maior das liberdades.
Terei muitas saudades, claro, mas isso apenas significa que fui um padre muito feliz, aqui. Obrigado.
Dada a circunstância de este anúncio coincidir com a festa do Mártir – uma das marcas desta paróquia – quero aproveitar a presença da Dra. Luísa Salgueiro, do Dr. Eduardo Pinheiro e outros membros da Câmara; do Dr. Pedro Sousa e outros membros da Junta; da Comissão do Mártir a quem quero agradecer do fundo do coração o trabalho que fazem, mas sobretudo a disponibilidade para mudar esta festa para o terceiro Domingo de Julho permitindo assim a participação nas Ordenações, que é dia mais importante para a família diocesana; e também de todas as outras entidades e associações ou comissões. A todos quero agradecer a boa e cordial colaboração mútua, a disponibilidade para sentirem a igreja como vossa casa e nos fazerem sentir nas vossas casas como em nossa casa.
Desejo que a comunhão e alegria que sentimos nesta festa do Mártir seja sempre fonte de comunhão e alegria para todos os dias que se seguirão.
Como diz o profeta poeta: ‘voltarei com a maré’.
Padre Manuel Monteiro Mendes
Texto escrito a 24 de Julho
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