Moisés Ferreira é, desde 2015, deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República. Com formação superior em Psicologia, o jovem deputado natural de São João de Madeira é hoje novamente cabeça de lista do partido às eleições legislativas pelo círculo eleitoral de Aveiro.
Moisés Ferreira é um dos nossos convidados especiais de Setembro.
1- Olá Moisés. O Bloco de Esquerda aparece bem lançado nas sondagens. Será que é desta que o partido se afirmará definitivamente como a terceira maior força política do país?
R: Olá Cusco, leitores e leitoras de Esmoriz. O trabalho realizado pelo Bloco de Esquerda (BE), desde a sua fundação e principalmente nesta última legislatura, permite que cada vez mais gente confie nas nossas capacidades e ideias. As pessoas decidirão a força que nos querem dar, mas de uma coisa podem estar certos. Com o Bloco de Esquerda com 10% e como terceira força saída das legislativas de 2015, foi possível aumentar salários e pensões, combater a precariedade, fazer uma nova lei de bases da Saúde e criar uma tarifa social da electricidade, apenas para dar alguns exemplos. Com mais força poderemos e faremos muito mais. É esse o desafio para o dia 6 de outubro e para o pós-eleições. É importante lembrar que esse crescimento pode fazer-se também no distrito de Aveiro. Ou seja, o distrito de Aveiro pode ser fundamental para o crescimento do Bloco de Esquerda e de tudo o que ele representa. Nas ultimas eleições legislativas ficámos a apenas 117 votos de eleger o segundo deputado pelo distrito. Agora isso é mais do que possível.
2- Considera que Catarina Martins, Coordenadora da Comissão Política do Bloco de Esquerda, tem sido o rosto deste crescimento?
R: A Catarina tem certamente uma forma de estar e traços de personalidade que cativam as pessoas e constroem confiança. As pessoas sabem que ela se bate pelos direitos de todos, que enfrenta os interesses e os lóbis e que é incansável na luta pela justiça neste país. Mas acima de tudo é o programa político e a visão que o Bloco de Esquerda tem da sociedade que potencia e permite o crescimento que temos tido. Somos uma esquerda de confiança. Não nos vendemos e estamos aqui por causas claras e justas. Queremos que as pessoas que vivem do seu trabalho tenham vidas dignas e salários justos e não abdicamos disso por nada. Queremos que os pensionistas tenham melhores pensões e não tenham que decidir entre a conta da farmácia ou a conta do supermercado. E não nos calamos enquanto não tivermos alcançado esses objetivos. Em suma, queremos uma sociedade justa, onde todos têm o direito a viver bem e em felicidade.
3- O Bloco de Esquerda defende um maior investimento no Serviço Nacional de Saúde. Quais são as principais vulnerabilidades deste sistema e que soluções o partido pondera apresentar?
R: O SNS vive um momento decisivo e, no dia 6 de Outubro, as eleitoras e os eleitores podem salvá-lo. Os problemas existem e são tantos, resultado de um “cocktail” explosivo de má gestão e de desinvestimento. O BE quer que o SNS seja uma prioridade para qualquer governo e isso tem que se refletir no aumento do investimento público nos cuidados de saúde e na valorização dos profissionais deste sector, tão necessário para termos mais qualidade de vida. Também propomos que o sector privado esteja totalmente separado do SNS, porque para nós a saúde não é uma mercadoria e o SNS não é negociável. O nosso programa aposta, ainda, na autonomia das instituições do SNS, para evitar que este fique dependente das autorizações do Governo, que ano após ano, deixou na gaveta obras, melhorias e contratações de recursos humanos extremamente necessárias.
4- Caso o Partido Socialista não consiga a maioria absoluta, o Bloco de Esquerda estará disponível para um novo acordo?
R: O BE vai trabalhar com o resultado que sair das urnas, no dia 6 de outubro. Toda a gente sabe o que o Bloco propõe e toda a gente sabe que somos capazes de concretizar as nossas propostas. E é isso que faremos. Se tivermos mais força faremos isso melhor. A nossa campanha esteve sempre centrada no que queremos para o nosso futuro coletivo, por isso, sentimos que as eleitoras e eleitores têm toda a legitimidade para decidirem democraticamente que força querem dar ao BE.
5- Muitos dirigentes bloquistas alegam que uma maioria absoluta do PS poderia ser má para o país. Que argumentos utilizam para reforçar esta teoria?
R: Não há boas memórias de maiorias absolutas em Portugal. A maioria absoluta significa menos negociação, menos entendimentos políticos, menos avanços salariais, menos fiscalização e menos escrutínio público. Em 2015 o PS não propunha aumento do salário mínimo nem aumento de pensões. Pelo contrário, propunha congelamento das pensões, facilitação dos despedimentos e corte em várias prestações não contributivas. O que aconteceu, então? Não teve maioria absoluta e isso obrigou-o a abandonar essas propostas altamente lesivas e a ter que aceitar propostas do Bloco de Esquerda. É notório que o PS está obcecado com a hipótese de alcançar a maioria e isso já fez com que António Costa se virasse para a direita. Ainda recentemente deixou claro que vai deixar de negociar o salário mínimo nacional no Parlamento para passar a negociá-lo com os patrões. Mas é importante recordar que, nos últimos 4 anos, os aumentos salariais nacionais foram decididos no Parlamento, com a Esquerda. Não foi com os patrões!
6- Como é que o partido tem vivido as questões ambientais, nomeadamente a situação da Amazónia? Bolsonaro tem a obrigação de fazer mais pela defesa da maior floresta húmida do mundo?
R: A eleição de Bolsonaro, no Brasil, representa um projeto político de defesa dos privilegiados, dos mais ricos e de ataque aos mais pobres e a toda a classe que vive do trabalho honesto. A Amazónia está a ser alvo de um ataque sem precedentes. É um facto que Bolsonaro, muito antes de sonhar com a eleição presidencial, já defendia a entrega do “pulmão do mundo” a grandes empresas, nomeadamente norte-americanas, nos sectores da mineração, da indústria alimentar e agrícola. Estas indústrias são as mais poluentes que existem no mundo e são predatórias, como bem demonstraram, aquando desta onda de incêndios. Bolsonaro, com o seu discurso de ódio e anti-ciência, legitima e autoriza o assassínio de centenas de índios, nativos da Amazónia, bem como incentiva práticas predatórias e ambientalmente criminosas, que as indústrias que referi, praticam. Bolsonaro lidera um governo a prazo, mas que arrisca deixar danos permanentes no Planeta Terra. Portanto, não podemos contar com Bolsonaro para defender o interesse comum.
7- Que ideias o Bloco de Esquerda propõe para dignificar as condições dos trabalhadores?
R: Excelente pergunta! Arrisco dizer que a ideia central do nosso programa nesta área é: garantir melhor distribuição dos rendimentos. Por um lado, o salário mínimo aumentou, mas os custos de vida em Portugal são muito elevados e os salários médios não recuperaram os valores anteriores à crise. É por isso que o BE considera fulcral continuar a recuperação do salário mínimo nacional. No nosso programa de governação há mais de uma dezena de medidas para melhorar a vida de quem vive do salário: combate à precariedade e à desigualdade salarial; reduzir o horário de trabalho para as 35 horas por semana; repor os valores do trabalho suplementar, cortados para metade pelo PSD e CDS; garantir mais direitos a quem trabalha por turnos; entre outras medidas, igualmente importantes para alcançarmos maior justiça social no nosso país.
8- O Bloco de Esquerda tem sido um defensor intransigente na requalificação da Linha do Vouguinha. Considera que este eixo ferroviário ainda desempenha um papel fundamental na vida das comunidades?
R: Se há coisa que a urgência climática nos diz é que o comboio é um transporte de futuro, ao contrário do que “os partidos do costume” nos tentaram dizer. Talvez por isso, o PS se tenha aliado ao CDS e ao PSD, em maio deste ano, para chumbar a proposta do Plano Nacional Ferroviário, apresentado pelo BE, na Assembleia da República.
Por exemplo, a Linha do Vouga serve cerca de 400 mil pessoas, mas foi alvo da fúria privatizadora dos sucessivos governos, que obrigam os utentes a viajar em comboios velhos, poluentes e muito mal mantidos. Temos que requalificar e alargar a ferrovia, garantindo sustentabilidade e qualidade. Assim, queremos reforçar a oferta da Linha do Norte, propomos a requalificação integral da Linha do Vouga e estamos decididos em avançar com o Eixo Internacional Norte Aveiro-Salamanca. A ferrovia, com o devido investimento, será uma grande aliada no combate às alterações climáticas.
9- Tem estado a par da actividade do Bloco de Esquerda no concelho de Ovar? Reconhece que Eduardo Ferreira, deputado na Assembleia Municipal de Ovar, tem efectuado um bom trabalho na defesa dos interesses dos munícipes?
R: O Eduardo Ferreira, juntamente, com os restantes bloquistas de Ovar, tem feito o que sabemos fazer melhor, no distrito e no país: trabalhar com a força que as eleitoras e os eleitores nos dão. Todos reconhecem no Eduardo a sua capacidade de trabalho e a forma metódica como enfrenta as questões políticas, num concelho com as dificuldades típicas de um concelho governado pela direita.
10 - Como descreve a equipa de candidatos que representam o núcleo do Bloco de Esquerda de Aveiro? Há dinâmica e vontade de mostrar um outro caminho além das políticas tradicionais?
R: A lista que o BE candidata ao Círculo Eleitoral de Aveiro mereceu a aprovação da esmagadora maioria das e dos ativistas do BE. É uma lista que nos orgulha pela sua diversidade, representatividade e pela dedicação às causas que dizem respeito a toda a sociedade. Temos profissionais de saúde e da área da educação, ativistas de áreas diversas, do feminismo aos direitos LGBTI+, passando pelo ambiente e pelo direito à habitação. Temos muita juventude e muita energia para mudar o mundo para melhor, claro está.
Aproveito esta oportunidade para agradecer às candidatas e aos candidatos do BE, que nas Legislativas de 2019, estão a empregar o seu tempo pessoal para a construção de um caminho de Esquerda, alternativo à política tradicional, empenhando-se na construção de uma sociedade mais justa, mais plural, mais igualitária e mais solidária. É por tudo isto que somos a Esquerda que elege em Aveiro e é por isso que vamos, mais uma vez, fazer acontecer!
Muito obrigado, Moisés Ferreira, por nos ter concedido a honra de responder ao nosso questionário.
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