quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Hoje vamos a uma exposição virtual

Um pouco de cultura nunca fez nada mal a ninguém, e então se a produção intelectual veiculada conhece uma costela esmorizense, esta é então mais uma razão para publicarmos uma reportagem especial. Hoje iremos abordar parte da história de vida e do legado artístico de Isabel de Sá.
Dentro deste contexto, Isabel de Sá nasceu em Esmoriz a 8 de Setembro de 1951. Esta senhora nasceu com uma vocação brilhante para a escrita, com os seus poemas de amor, de nostalgia e existencialismo a serem folheados por milhares de leitores. Outros temas como a infância, o erotismo, a morte, os desencantos e as inquietações da vida são igualmente visíveis. O recurso recorrente a uma linguagem metafórica e à desconstrução/fragmentação do ser constituem igualmente evidências que podemos destacar na escritora.
Ela viria a publicar muitos dos seus poemas em revistas e antologias. Também colaboraria em páginas de cultura do Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, Diário Popular, etc.
Também viria a ser autora dos seguintes livros de poesia: Esquizo Frenia (1979), 5 Folhetos Poéticos (1980), O Festim das Serpentes Novas (1982), Bonecas trapos suspensos (1983) Desejo ou Asa Leve (1983), Autismo (1984), Restos de Infantas (1984), Nervura (1984), Em Nome do Corpo (1986), Escrevo Para Desistir (1988), O Avesso do Rosto (1991), O Duplo Dividido (1993), Erosão de Sentimentos (1997), O Brilho da Lama (1999), Repetir o Poema (2005).
No início desta digressão pela sua erudição, transcreveremos dois poemas seus:



Poema nº 1 - O PRINCÍPIO DA REALIDADE



Se a arte
não for insubmissa
se não permanecer
desobediente
e não escapar ao controlo
é o quê?


Se a arte
não for insurrecta
se não permanecer
pedra viva escaldante
é o quê?
a arte
se não disser Eu Sou?


Isabel de Sá, in revista Brilho no Escuro nº2, Setembro. 2009



Poema nº2 - NÃO SE PASSA NADA


Nada de cinismo
a vida é boa
ainda não há guerra
nem peste nem fome.


Ninguém cospe no teu rosto.


O fruto cai da árvore
a fêmea é fértil
o macho vigoroso
as crias alegram o prado
e o sol brilha brilha.


A ciência não pára
de nos surpreender
e dar conforto:
nascer crescer ser velho
e falecer. Moléculas
átomos e neutrões
amparam-nos na queda
dizem-nos o que é o amor.


O amor também é feito
de vermes e bactérias.
A sua chama
transforma os nossos corpos
na mais bela cinza.


Isabel de Sá, in O binómio de Newton E a Vénus de Milo - Antologia. ALETHEIA Editores, Lisboa, Novembro. 2011



Mas não nos fiquemos por aqui. Começamos com a Literatura, mas agora vamos para a Pintura. Isabel de Sá formou-se em "Artes Plásticas/Pintura" pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. No ano de 1977, inaugurou a sua primeira exposição nas galerias "Dois" e "Alvarez" no Porto. A partir daí começaria uma maratona de exposições individuais e colectivas que tiveram lugar em vários sítios. Isabel iria fazer exposições nas Galerias Opinião (Lisboa, 1978/1979), Árvore (Porto, 1979, 1983, 1987, 1990 e 1993), Espaço A-Clube 50 (Lisboa, 1983 e 1986), Labirinto (Porto, 1992), Augusto Gomes (Matosinhos, 1988), Símbolo (Porto, 2005 e 2007), entre outras!
Em 1983 participa na exposição colectiva da I Bienal de Chaves, onde alcança o seu primeiro prémio de carreira nesta área. Viria ainda a ser distinguida com o Prémio Nadir Afonso atribuído em memória do celebre pintor, arquitecto e pensador português que viveu entre 1920 e 2013.
Agora é pois altura de contemplarmos algumas das magistrais pinturas de Isabel de Sá que lhe granjearam um elevado reconhecimento.





















Não há dúvidas de que a sua arte faz repercutir todo um conjunto de vivências sociais e não é de estranhar que todas estas pinturas tenham sido exibidas em galerias portuguesas de elevado renome. Como podemos constatar, a idealização do abstracto também está patente nestas obras.
Isabel de Sá ainda é viva (conta com 68 anos à data da realização deste artigo), e esperamos que ela não se importe com esta pequena homenagem que decidimos prestar ao seu legado. As suas mãos revelam dons ímpares para a escrita e para a pintura. O seu pensamento é complexo e enriquecedor. É uma artista completa, e muitos em Esmoriz, se calhar nunca ouviram falar dela. E isso é algo que o nosso site terá sempre de ajudar a corrigir socialmente porque temos de valorizar os nossos, dar visibilidade a quem merece.
Na poesia, sempre tivemos grandes ou bons escritores que viveram em Esmoriz (ou que tiveram uma ligação a esta terra). Florbela Espanca por cá passou entre os anos de 1924-1927 (apesar de ser natural de Vila Viçosa), Alexandre Castro Soares, Boanerges Cunha, Saúl de Oliveira (este também compôs poesia) e António Maria integraram uma geração seguinte de grande respeito pelos pergaminhos desta arte. Mais recentemente, podemos adicionar os nomes de Agostinho Fardilha, Francisco Pinho, Manuel Sá, Ana Roxo, Silvino Gomes, Eva Estrela e Susana Cruz que também têm redigido poemas de qualidade. Mas claro não nos podemos esquecer que Isabel de Sá está na vanguarda desta derradeira fornada de génios literários naturais ou residentes em Esmoriz.
Na pintura, confesso que não estou muito a par dos feitos esmorizenses. Bem Lérias é actualmente uma referência das artes plásticas visto que revela bom gosto e um sentido de excelência naquilo que produz. Ficamos rendidos à forma como ela elabora os seus azulejos e os mais diversificados artigos de decoração. Se calhar não tão conhecida pelo público local, temos ainda Sandra M. Rocha que também se dedica a pintar retratos de pessoas bem como a esboçar a própria natureza (mediante a exibição de alguns animais).
O Padre Aires de Amorim, na sua monografia "Esmoriz e a sua História", refere Maria Clara Leça Alves da Silva (natural do lugar de Matosinhos em Esmoriz, onde nascera em 1954) que terá concluído o curso na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1973, mas pouco sabemos ainda sobre o seu percurso artístico.




Natural de Esmoriz e residente no Porto, Isabel de Sá é, em simultâneo, pintora e poetisa de elevada categoria.

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